26 novembro 2008

A importância dos dois pontos



- Filho, o que fizeste aos iogurtes que eu te comprei ontem?
- Deitei fora...
- O quê?! Mas a que propósito?
- Então... Já não podia comê-los!
- O que é que estás a dizer?! Mas que disparate! Explica-te lá!
- Então: eu olhei para a tampa, não consegui evitar. E só depois é que reparei que a embalagem dizia "CONSUMIR ANTES DE VER TAMPA"!

24 novembro 2008

Dose para doze


O "Bacalhau a Braz" já é banal... Mas que dizer daquela nota final na ementa, sobre a "doze" com mais um talher?

Só prova uma coisa: não é preciso escrever correctamente para alcançar a compreensão dos leitores. Afinal, quem é que precisa de ler a frase duas vezes para perceber o seu significado?
Ninguém. Fica muito claro que, quando a dose for servida com mais um talher, será cobrado o valor adicional de 1 euro. É mais bonito, mas o resultado é o mesmo...

Resta saber se o tamanho das doses justifica pedir mais onze talheres, se formos doze a comer!

21 novembro 2008

Material de escritório quietinho...


Esta loja vende produtos e presta serviços na área gráfica, mas, a avaliar pela montra, não presta lá grande serviço à língua portuguesa...
Alguém sabe o que são "estacionários"?!
Parece que é material de escritório, ou de papelaria: canetas, blocos, borrachas e afins. E porquê "estacionários", que é o mesmo que dizer "parados" ou "imóveis"?
Trata-se de uma leviana tradução do nome inglês stationery - com e, pois não é o mesmo que stationary...
Já viram coisa mais absurda?


18 novembro 2008

Desafio de vocabulário

O nome relativo ao verbo adquirir é aquisição. E qual o nome relativo aos seguintes verbos?

- assumir
- convencer
- interceder
- manter

E agora, o exercício ao contrário. Qual o verbo correspondente aos seguintes nomes?

- transfusão
- circuncisão
- intuição
- rescisão

12 novembro 2008

Tiago

Nós também estamos de luto pelo Tiago.

Também o conhecemos, também o admirámos, também acreditámos nele.

Temos estado em silêncio, porque a notícia da sua morte nos calou. Ficámos muito tristes e não quisemos deixar de registar aqui pelo menos estas palavras de apreço por alguém que merece o respeito e a admiração de todos os que prezam a língua portuguesa.

Não esqueceremos a sua presença tranquila, mas marcante. A sua capacidade para ouvir, a sua permanente disponibilidade para ajudar. E os seus ensinamentos serão sempre fonte de inspiração para nós.

05 novembro 2008

Um carácter que dá para os dois lados...


Na inocência do nosso limitado conhecimento sobre a língua que falamos, podemos andar uma vida inteira enganados sobre a pronúncia, a grafia, ou mesmo o significado de uma palavra.

Isso não tem mal nenhum. Afinal, se toda a gente se entende, há coisas bem mais importantes na vida do que andarmos a confirmar, a toda a hora, aquilo que dizemos ou escrevemos.

Mas, quando nem todos nos entendemos e começamos a discutir sobre o que está certo e o que está errado, porque uns dizem que é assim e outros dizem que é assado, é caso para dizer que... está o caldo entornado!

Gostaria, por isso, de esclarecer que a palavra carácter não serve apenas para designar o conjunto de características que constituem a personalidade de alguém, mas também, e até em primeiro lugar (por ser o seu sentido original), uma marca, um sinal gravado ou impresso numa superfície, representando um som ou uma ideia. No entanto, o plural de carácter é caracteres — que, além de divergir na sílaba tónica, também é diferente no facto de se pronunciar o c antes do t (ao contrário do que sucede com carácter, pois dizemos [karáter].

Acontece que muito boa gente prefere usar o nome singular “caracter” (com tónica na sílaba -ter e pronunciando o c antes do t) nos contextos em que a palavra se refere a uma letra impressa, reservando o carácter (com tónica na penúltima sílaba e c mudo) para as situações em que designa “personalidade”. O mesmo sucede, aliás, com a suposta “rúbrica”, a “assinatura” (que na verdade não existe), que seria diferente de rubrica (tema de um artigo ou programa). Por outras palavras, parece que os falantes não gostam que haja uma palavra com significados diferentes, arranjando maneira de a desdobrar em duas palavras distintas, cada uma com o seu sentido.

E há mal nisso?

Haver mal não há. Mas é no mínimo desconcertante, para os que usam o termo “caracter”, descobrir que, afinal, ele não existe na língua que falam. E é igualmente desconcertante, para os que têm a função de esclarecer os outros, verem-se a tentar persuadi-los de uma verdade que é pouco convincente, se não mesmo inconveniente.


03 novembro 2008

Cordelinhos à portuguesa



Um certo dicionário informava, na data em que escrevi esta nota, que esparguete era «forma vulgar e incorrecta de espaguete». E esta, hein?
Se, por um lado, é contraditório (para não dizer absurdo) que um dicionário registasse uma grafia que os seus lexicógrafos entendiam ser incorrecta para determinada palavra, por outro lado, perante esta informação, o mínimo que podíamos fazer seria procurar saber mais sobre o aportuguesamento do italiano spaghetti. Estará ao nível da “mortandela”?
Outro dicionário apresentava uma definição para esparguete: «CULINÁRIA massa de sêmola de trigo em forma de cilindros compridos e delgados» e acrescentava a seguinte informação etimológica: «Do it. spaghetti, «id.» ´espargo».
Curioso... repararam naquele “espargo” no final? Eu também! E o que têm os espargos que ver com esparguete, para além de haver uma óbvia semelhança na forma desses dois vocábulos?

Spaghetti é o plural de spaghetto, que por sua vez é o diminutivo de spago, cujo significado é «cordel». Spaghetti significa, portanto, à letra, «cordelinhos». Ora, como sabemos, de um cordel a um espargo vai alguma distância... tanto mais que, segundo a Infopédia, a palavra espargo vem do grego aspáragos, por via do latim asparàgu-, com o mesmo sentido.
O termo italiano spago, tanto quanto pude apurar, tem uma origem distinta, embora, curiosamente, no seu étimo houvesse também um “r”: era spartum. Em todo o caso, fica por explicar a alusão ao “espargo”.. é que dessa explicação depende a decisão de considerar ou não erróneo o “r” que nos apareceu no espaguete. E este, enquanto espera, vai arrefecendo!...


Nota: Passado algum tempo, voltei ao dicionário em linha que aludia a "espargo" na etimologia de esparguete e essa alusão tinha desaparecido sem deixar rasto!